A IMPORTÂNCIA DO CANTO PARA A PARTICIPAÇÃO ATIVA NA LITURGIA
Todos nós temos consciência da importância e do lugar que a música e o canto ocupam em nossas vidas. Somos capazes de manifestar nossos gostos e desgostos musicais e até de sublinhar aquelas músicas que se tornaram como que a trilha sonora para cada fase de nossa vida. A música e o canto estão presentes em todas as dimensões da vida humana. Nos afetam em nossa dimensão individual, social, comunitária, biológica, psicológica e espiritual, a ponto de não conseguirmos imaginar e conceber a nossa vida sem eles. São fenômenos que acompanham a humanidade desde os seus primórdios. São fenômenos universais, pois estão presentes em todos os povos, culturas e religiões. No início, eram fenômenos que se expressavam de forma bastante rudimentar, sobretudo quando observamos a música dos povos primitivos e selvagens. Com o passar do tempo, a música e o canto foram se aprimorando e sistematizando-se cada vez mais, até se tornarem a música e o canto que nós hoje conhecemos. Trata-se de uma longa e rica história a qual não pretendemos abordar aqui. Música e canto são dois conceitos bastante abrangentes e amplos, assim como é a sua história. Neste presente artigo, focaremos nossa atenção no canto enquanto meio eficaz para a participação ativa dos fiéis na Liturgia. Não se trata de qualquer canto, mas do canto litúrgico. A Igreja sempre primou pela arte, tornando-se sua guardiã e promotora, pois a verdadeira arte e sua beleza tem a capacidade de nos elevar a Deus, Aquele que é o Belo por excelência. A música e o canto, porém, se sobressaem entre todas as expressões de arte (cf. SC 112). E a Liturgia, ao longo dos séculos, foi incorporando a si esta riqueza de inestimável valor. Porém, no decorrer da história, houve certo descuido em relação à participação do povo na Liturgia através da música e do canto. Conforme a música sacra foi se aprimorando e tornando-se uma arte cada vez mais complexa e refinada, o povo que antes participava ativamente dos mistérios sagrados, tornou-se mero espectador das celebrações, ou seja, o povo não conseguia mais cantar a Liturgia, tão pouco entender o que estava sendo rezado e cantado. A música e o canto sacros eram executados e cantados apenas por algumas pessoas devidamente preparadas para tal e não mais por toda a assembleia. A Igreja então, começou a preocupar-se com esta realidade. Começaram a surgir numerosos movimentos de renovação na Igreja, dentre os quais destacamos o Concílio Vaticano II. O referido Concílio visava a renovação da Igreja como um todo, a começar pela renovação da Liturgia, que é o cimo e a fonte da vida da Igreja (cf. SC 10). E o documento que trata desta renovação e que foi o primeiro a ser aprovado pelo Concílio, chama-se Sacrosanctum Concilium (SC), em português: “o sagrado Concílio”. Deste documento, destacamos o conceito de participação que é como que a sua “espinha dorsal”. Trata-se da participação na Liturgia por parte de toda a assembleia, não apenas do padre, do bispo, dos leitores e cantores. “É uma participação não apenas externa, superficial, mas plena, ativa, consciente, frutuosa, teologal. Esta participação, não depende da vontade do padre ou do bispo ou de cada membro da Igreja, mas é uma exigência da própria liturgia e um direito sagrado de todas as pessoas batizadas” (BUYST, Ione. Participar da liturgia. São Paulo: Paulinas 2012. Coleção rede celebra, 10; p. 19). Desta maneira entendemos porque o conceito de participação é tão caro à Sacrosanctum Concilium. Não apenas assistimos as celebrações litúrgicas, mas tomamos parte nelas. Não apenas cantamos na Liturgia, como se estivéssemos fora dela, mas cantamos a Liturgia, uma vez que dela participamos com todo o nosso ser, com todos os nossos sentidos internos e externos, tudo isto por força de nosso Batismo. E como é belo e maravilhoso quando conseguimos celebrar esta participação ativa da Liturgia mediante o canto forte e harmônico de toda a assembleia reunida, que eleva a Deus o seu louvor a uma só voz, em “um só coração e uma só alma”, como faziam as primeiras comunidades cristãs (cf. Ef 5,19; At 4,32)! Portanto, os nossos pastores, as pessoas que se dedicam ao ministério de música e de canto e todo o povo de Deus, devemos nos esforçar e buscar um constante crescimento e amadurecimento para que nossa participação seja cada vez mais plena, ativa consciente e frutuosa na Liturgia. Mas afinal de contas, porque a música e o canto se fazem, por excelência, meios eficazes para a participação ativa dos fiéis na Liturgia? Aldo Vannucchi, em seu livro Liturgia e Libertação, nos oferece uma excelente resposta à esta questão: “Quem canta junto, ou já comunga na mesma fé ou se afeiçoa a ela, pouco a pouco. Por tudo o que ele é – melodia, harmonia, ritmo, poesia, envolvimento motor e sensorial – o canto gera comunhão, ligando fé e emotividade, reflexão e sentimento, teologia e mística, rito e palavra, idéia e ideal, contemplação e ação, fiel e assembleia, Igreja Particular e Igreja Universal. A linguagem da música faz entrar em solidariedade até os mais estranhos e distantes. Ultrapassa barreiras linguísticas e engole as diferenças de raça. Pela arte musical e nela, experiência estética e experiência mística facilmente se fundem num bem-estar gratuito e gratificante, em qualquer cultura e em qualquer idade, atingindo-nos no mais profundo de nossa existência individual e social, pelo seu calor emotivo e pela sua carga de totalidade, desprovidos de qualquer finalismo utilitário”.
Paz e Bem!
Frei Luiz Eduardo Dias Lima, ofm.
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