O ROSÁRIO COMENTADO DO PONTO DE VISTA BÍBLICO Parte 8
3.4. Jesus a caminho do Calvário e encontro com sua Mãe (Lc 23,26-32)
Lucas apresenta Jesus a caminho da execução. Isaías diz: "Tão desfigurado estava o seu aspecto e sua forma não parecia a de um homem" (Is 52,14). Pode-se imaginar alguém exangue, torturado pela sede, tendo que carregar o instrumento onde seria preso e pendurado! Precisou de auxílio. Simão de Cirene é requisitado para carregar a trave transversal da cruz colocada em cima da nuca de Jesus onde seus braços estavam amarrados. Lucas, com isso quer sugerir a ideia de que todo o discípulo que segue Jesus deverá carregar a cruz: "Se alguém quer vir após mim... tome a sua cruz cada dia e siga-me" (Lc 9,23). O cortejo quer servir de exemplo para outros que querem se revoltar contra o sistema judaico e contra Roma. Por isso ele passa pelas principais ruas da cidade de Jerusalém. Além dos algozes seguem Jesus algumas mulheres. Elas se lamentam e demonstram suas dores. Jesus, dizendo para elas: "Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, mas por vós mesmas e vossos filhos" (Lc 23,28), que dizer a elas que não devem se preocupar com as consequências, mas com as causas daquilo que está acontecendo. As causas, e Lucas diz que era necessário isso acontecer, são os pecados cometidos entre os seres humanos: os pecados pessoais, os pecados sociais, os pecados contra a criação em geral tanto do passado como do presente e do futuro. Jesus, num único gesto, cria as condições a fim de que tudo possa ser redimido.
3.5. A crucificação e morte de Jesus (Jo 19,17-30)
Alguns aspectos que podem ser levados em conta para a compreensão da morte de Jesus.
3.5.1. A não resistência
Já antes dos tempos do Novo Testamento, dentro do judaísmo, existia uma corrente de pensamento que já não mais acreditava que a redenção de Israel viria pela força exercida por um Messias que viria sob as nuvens dos céus. Eles não mais acreditavam que matando por uma causa conseguiriam a solução de todos os males. Eles acreditavam que dando a vida por uma causa daria muito melhores resultados. Isso a gente pode perceber nos Cânticos do Servo do profeta Isaías. Em outras palavras, já aplicavam para si o conhecido provérbio: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido". Diz o terceiro cântico do Servo: "Ofereci o dorso aos que me feriam e as faces aos que me arrancavam os fios da barba; não ocultei o rosto às injúrias e aos escarros" (Is 50,6). Eram pessoas que não resistiam aos maus tratos, mas os ofereciam por uma causa.
3.5.2. Jesus entrega sua mãe como nossa mãe
Segundo o Evangelho de João, aos pés da cruz, quando Jesus estava para entregar seu espírito ao Pai, Ele entrega sua mãe como a mãe da comunidade representada pelo discípulo a quem Jesus amava. Maria, a partir deste momento, se torna a mãe da Igreja, ou seja, da comunidade cristã. A mãe de Jesus aparece no início (Jo 2,1-5) e na conclusão (Jo19,25-27) da obra de Jesus. A mãe introduziu Jesus no mundo, como ser humano no meio da humanidade. Com sua morte, o lugar de Jesus fica vazio e vai ser preenchido agora pela comunidade cristã. Esta fará coisas maiores, porque Jesus, enquanto estava aqui na terra, estava limitado pelo espaço e pelo tempo. Jesus entrega sua obra ao Pai, mas também aos seus cuja referência, mais do que nunca é a mãe. Na cruz cumpre-se o plano de Deus e, portanto, a plenitude da revelação.
3.5.3. A crucificação
A crucificação de Jesus é um dos fatos mais atestados na história. Os romanos tinham equipes especializadas em crucificação. Evidentemente que a dor devia ser tanta que não seria possível que o condenado a suportasse. Provavelmente davam para inalar, talvez por meio de uma esponja, um analgésico feito de uma planta da bacia do mar Mediterrâneo chamada de mandrágora. Mateus disse que "deram-lhe a beber vinho misturado com fel". Mateus, evidentemente, não estava lá para conferir. Ele simplesmente cita o salmo 69,22. Uma outra informação que pode interessar é esta. Quando Jesus estava prestes a expirar, ele disse: "Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?" (Mt 27,46). Este grito poderia dar a entender, e como muitos de fato assim o acreditam, que teria sido um grito de desespero. Esta frase, no entanto, é a primeira frase do Sl 22. Era o salmo que todo o moribundo judeu rezava quando estava chegando ao fim de seus dias. Jesus, como bom judeu, antes de entregar ao Pai sua vida, também reza este salmo. Também se colocava um pequeno apoio para evitar que as mãos, não suportando o peso do corpo, se rompessem. Para evitar que alguém pudesse sobreviver, mesmo tendo praticamente certeza da morte, transpassavam o coração com uma lança.
3.5.4. Sepultamento
Diferentemente dos outros trucidados, que muitas vezes ficavam na cruz onde as aves de rapina, cães, e outros animais se encarregavam dos restos mortais, Jesus foi sepultado. José de Arimateia, membro do Sinédrio, portanto, do alto escalão do judaísmo, tendo acolhido o Reino de Jesus (cf. Mc 15,43 par.) ofereceu seu próprio túmulo, escavado na rocha, portanto, um sepulcro novo, ou seja, ainda não-usado, para depor os restos mortais de Jesus. Fez isso com permissão de Pilatos. Acontecia que os justiciados tinham o nome varrido da sociedade de então, não podiam ser mais pronunciados e, às vezes, até sua família era trucidada aos pés da cruz enquanto o crucificado ainda vivia. Por medo da cúpula judaica de então fazia com que certos judeus do alto escalão, inclusive Nicodemos, o chefe dos fariseus, vivessem sua fé na clandestinidade. Ele, José de Arimateia e outros e outras se reúnem e preparam às pressas o corpo de Jesus para a sepultura. Outro dado interessante, além da enorme quantidade de perfumes usados, eram perfumes usados para sepultar reis e também não eram perfumes usados para sepultamentos, mas para os vivos (Konings). O motivo da condenação fora conhecido por uma tabuleta aposta no lugar acima da cabeça de Jesus onde estava escrito: "Jesus de Nazaré, rei dos judeus".
Dr. Frei Romano Dellazari, ofm
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