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O SINGULAR NA PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA EM GUILHERME DE OCKHAM

Síntese da dissertação do Mestrado em Filosofia

Guilherme de Ockham é um frade franciscano inglês que viveu no final do século XIII e início do século XIV. Com grande conhecimento filosófico e teológico, ele contribuiu para o desenvolvimento de várias ideias que permeavam o mundo acadêmico daquele tempo: a lógica, o diálogo entre a fé e a razão, a questão dos universais.

Para Guilherme de Ockham, a universalidade não existe nos entes concretos, mas somente no intelecto humano. Observando a realidade concreta, afirma o franciscano inglês, encontramos unicamente seres animados singulares: vemos a Maria, Sofia, Paulo e João etc. Não existe a humanidade em si nessas pessoas, é só um conceito elaborado na nossa mente. Isso se pode afirmar também dos seres inanimados: Júpiter e Saturno são completam diferentes uns dos outros, apesar de serem planetas.

O debate sobre a natureza dos universais iniciou já com os filósofos clássicos, principalmente com Platão e Aristóteles, e foi problematizado por outros pensadores, como Porfírio e Boécio. O debate passou por diversos filósofos medievais, e continua nos dias de hoje em formas e métodos variados. Ockham participou dessa discussão, afirmando que o singular tem a primazia sobre o universal. O primeiro objeto do conhecimento humano é o individual e não o universal como muitos outros pensadores compreendiam.

Desta maneira o filósofo inglês introduz uma grande novidade no modo de pensar e de ver as coisas. O conceito universal é um signo mental que serve somente para entender e classificar as coisas, mas não tem valor absoluto. A origem do conhecimento e da relação passa através da singularidade. Na filosofia de Guilherme de Ockham, o singular permeia diversas áreas do seu pensamento como a teologia, a física e a lógica. Podemos afirmar que em Ockham se encontra uma ontologia do singular, ou seja, o singular é a característica fundamental do ser.

A dimensão da singularidade passa também pela antropologia. Apesar de Guilherme de Ockham não ter desenvolvido amplamente uma antropologia, ele afirma que o ser humano acima de tudo é uma individualidade. No ser humano, por sua vez, se encontram três dimensões principais: a intelectiva, a sensitiva e a corpórea, ou seja, existe uma pluralidade de formas em cada pessoa. Para Ockham, cada parte que compõe o ser humano deve ser cuidada e vista também de uma forma integral. Ao mesmo tempo, cada pessoa deve ser vista em sua individualidade e não a partir de uma generalização ou um conceito de humanidade formado a partir de uma determinada ideia.

Podemos observar que o pensamento de Guilherme de Ockham segue a tradição franciscana, que busca dar atenção ao contingente, ao singular. Para o franciscano cada ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus e todos são irmãos e irmãs uns dos outros. São Francisco de Assis jamais quis que os irmãos se adequassem a um determinado conceito de pessoa humana, mas valorizava a peculiaridade de cada irmão. Guilherme de Ockham e outros frades por meio de categorias filosóficas expõem o modo de pensar franciscano sobre a pessoa humana, ou seja, desenvolvem uma antropologia filosófica franciscana.

Mas o que o singular na perspectiva de Guilherme de Ockham tem a nos dizer hoje? Creio que tantas vezes o ser humano ainda não é visto plenamente em sua singularidade. Apesar de observarmos um grande progresso nesse sentido, muitas pessoas ainda hoje são discriminadas e taxadas somente por fazerem parte de um determinado grupo ou de uma determinada etnia, em ideias muitas vezes preconceituosas. Ockham nos indica que é fundamental fazermos a experiência de cada ser humano em sua singularidade, descobrindo a beleza de cada um e louvando o Criador por ter criado tamanha diversidade e riqueza.


Frei Cláudio André Lottermann,ofm

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