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Uma tentativa de estudo sobre Eclesiástico 37,27-38,24

Motivação

Uma tentativa de estudo sobre Eclesiástico 37,27-38,24 Motivação: Nós, da Coordenação do CEBI/RS nos desafiamos a escrever pequenos textos de reflexão bíblica para serem oferecidos às nossas Escolas Bíblicas e Grupos de Base nestes tempos de reclusão e isolamento provocados pela pandemia do Covid-19, que nos força a viver em quarentena. Escolhi, então, o presente texto do livro do Eclesiástico, que já foi usado pela Campanha da Fraternidade de 2012 “Fraternidade e Saúde Pública”, cujo Texto Base e outros subsídios recomendo para estes tempos de pandemia. Segue abaixo as minhas anotações. Aguardo os comentários, as críticas e as sugestões de vocês. Boa reflexão.


1- O Livro

Alguns dados sobre o livro do Eclesiástico (ou Sirácida): Trata-se de uma

verdadeira coletânea de ensinamentos e de releitura de textos já conhecidos no mundo judaico daquele tempo, elaborada por Eleazar de Jerusalém, em hebraico no segundo século antes de Cristo. A obra foi traduzida para a língua grega, latina e siríaca.

A versão que temos em nossas bíblias vem de uma tradução para o grego elaborada pelo neto do autor, Jesus Ben Sirá, no ano 132 AC. Este tradutor escreve um prólogo ao livro onde explica o seu trabalho e as dificuldades da tradução da obra de seu avô. O autor exalta a Sabedoria, que para ele é seguir a Lei de Deus revelada a Moisés, conforme se encontra na Torá. O livro trata de temas variados relativos à vida e à morte, bem com usa uma teologia bastante ligada aos sacerdotes do Templo de Jerusalém, com características da “Teologia da Retribuição”.

O Título do livro, Eclesiástico, foi dado pelo seu uso oficial pelos sacerdotes e mais tarde pela “Eclesia”. Já o título em algumas bíblias é Sirácida por causa da assinatura do autor em 51,30 do livro. A obra não possui uma estrutura literária predominante. Trata-se de uma miscelânea de ditos proverbiais e sapienciais, sentenças, hinos e orações. O Eclesiástico possui um prólogo, 51 capítulos, sendo cap. 51 um acréscimo posterior, verdadeiro apêndice.


2- O Texto 37,27-38,24 - Tirado da Nova Bíblia Pastoral da Editora Paulus.

(Vocês poderão ler diretamente da bíblia de cada um).

Cap. 37

27 - Filho, prove a si mesmo durante vida. Veja o que é prejudicial, e evite-o, 28 – Nem tudo convém a todos, nem todos se agradam de tudo. 29 – Não seja insaciável de prazeres, nem se lance sobre os pratos de comida. 30 – Porque o excesso de comida provoca doenças, e a gula é acompanhada de cólicas. 31 - Muitos morreram por causa de sua gula, mas quem sabe se controlar vive muito tempo.

Cap. 38


1 - Honre os médicos por seus serviços, pois também o médico foi criado pelo Senhor. 2 – Do altíssimo vem a cura, e o médico receberá do rei o pagamento. 3 – A ciência do médico o faz levantar a cabeça, e por isso será admirado pelos grandes. 4 – Foi da terra que o Senhor criou os remédios e o homem de bom senso não o despreza. 5 – Não foi por um pedaço de madeira que as águas foram adoçadas e assim manifestaram seu poder? 6 – Ele deu aos seres humanos a ciência, para que pudessem glorifica-lo por causa das maravilhas dele. 7 – Com ela a dor é curada e eliminada, e o farmacêutico prepara as fórmulas. 8 – Assim as obras de Deus não têm fim, e dele vem o bem-estar para toda a terra. 9 – Filho, se você ficar doente, não seja descuidado. Suplique ao Senhor, e ele o curará. 10 – Evite as faltas, lave as mãos e purifique o coração de todo o pecado. 11 - Ofereça incenso e um memorial de flor de farinha, e faça uma oferta de óleo, conforme suas possibilidades. 12 – E dê lugar para o médico, pois também ele o Senhor o criou. Não o afaste porque você precisa dele. 13 – Há momentos em que a cura está nas mãos dele. 14 – Os médicos também suplicam ao Senhor, afim de que lhes conceda o dom de aliviar e curar, garantindo a continuidade da vida. 15 – Quem peca contra o seu Criador caia nas mãos de um médico. 16 - Filho, derrame lágrimas pelo morto, e entoe lamentações como alguém que sofre profundamente. Depois, enterre o cadáver segundo o costume e não se descuide do túmulo dele. 17 - Chore amargamente, faça a lamentação, e observe o luto proporcional à dignidade do morto, de um ou dois dias, para evitar os comentários; e depois console-se de sua tristeza. 18 – Porque da tristeza vem a morte, e a tristeza do coração consome as forças. 19- Também na desgraça a tristeza permanece, e a vida do pobre é triste ao coração. 20 – Não entregue seu coração à tristeza, mas afasta-a pensando no fim que você terá. 21 - Não se esqueça: da morte não há retorno. Você não será útil ao morto e acabará se prejudicando. 22 – Lembre-se: ”meu destino será também o seu. Eu ontem, e você hoje”. 23 – Quando o morto repousar, deixe de recordar-se dele. Console-se com a partida do espírito dele.

3- Nos aproximando do texto Ao nos aproximar deste texto é importante ter em conta que se trata de uma obra de alguns séculos AC e que já era uma releitura de escritos anteriores. Conforme já indicamos, com forte influência da Teologia da Retribuição, dentro de uma visão de mundo teocêntrica. Deus é o centro gerador de tudo e dele depende a vida e/ou a morte das suas criaturas. Dentro dessa visão, as doenças são frutos do pecado e a cura vem pelo arrependimento e pela conversão à Lei de Moisés. Não são estas a visão e a compreensão de Jesus de Nazaré que está relatada nos Evangelhos. Portanto, saibamos “tirar os noves fora”! Podemos subdividir o nosso texto em quatro partes que se relacionam e dialogam entre si, sendo o versículo 38,8 o centro do texto, vejamos: 3.1- Cuidado da vida 37,27-31 (textos semelhantes do mesmo livro: 6,2-4; 18,30-32 e 31,19-22) Nestes versículos o Autor destaca a importância da disciplina e do autocontrole para se ter saúde e vida longa. Esta mesma temática já tinha sido abordada por ele nos textos anteriores no mesmo livro conforme indiquei no subtítulo. São orientações práticas relativas à vida diária, mas com destaque para a alimentação e os bons costumes. 3.2- Os remédios e os médicos 38,1-7 Se alguém ficar doente vá buscar os remédios na própria natureza, pois “Da terra que o Senhor criou os remédios, e as pessoas sábias não os desprezam”. Caso seja necessário recorrer aos médicos e aos farmacêuticos, não têm problemas em relação à fé, pois, foi Deus quem deu a ciência a ambos, e com ela podem aliviar a dor e curar as pessoas. Vejam quanta sabedoria nestas recomendações, que continuam muito válidas ainda hoje. Cultivar a terra e guardá-la com todo o cuidado, buscando na natureza os alimentos saudáveis e, se for necessário, os remédios. 3.3- Tese central 38,8 -“Assim as obras de Deus não têm fim, e dele vem o bem-estar para toda a terra”. A expressão “bem-estar” é a tradução da palavra grega eirênê, que também pode ser traduzida por “saúde”, “paz de Deus”, “salvação”. Sabemos que a palavra paz = shâlôm significa bem-estar pleno com saúde, alegria... estar de bem consigo mesmo, com todas as outras criaturas e com o seu Criador. Portanto, estamos diante da tese central do autor em relação à vida dos seres humanos neste mundo. Aqui vale lembrar o Evangelho segundo João 10,10 onde Jesus afirma que “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância”. 3.4- A doença e a saúde são de origem divina 38,9-15 Como para o Autor, a doença é de origem divina, isto é, castigo por algum pecado cometido, a cura também o é. “Suplique ao Senhor e ele o curará”. Mas é importante notar que já naquele tempo se sabia que não basta ficar orando e pedindo a cura a Deus. É preciso fazer alguma coisa. Agir: “Filho não seja descuidado... evite as faltas, lave as mãos e purifique o coração de todo o pecado”. Portanto, é necessário ter disciplina, cuidado consigo mesmo, usar os remédios que a natureza oferece, recorrer aos médicos a à ciência se for preciso, dentro daquela compreensão de que tanto um como a outra são criaturas de Deus. Vejam que dicas importantes e atuais nestes tempos de pandemia: respeitar as orientações de isolamento, lavar as mãos e não desprezar as recomendações das ciências. 3.5- Em caso de morte, muito respeito pelo falecido 38,16-23 Para o Autor do livro do Eclesiástico a morte faz parte da vida, pois no mesmo discurso em que ele trata do cuidado com a vida, do modo de como recuperar a saúde em caso de doença, acrescenta recomendações de como proceder em caso de morte. É preciso ter muito respeito pelo morto, chorar e lamentar sua partida, lhe dar enterro decente e não descuidar de seu túmulo. Fazer luto conforme o costume e não cair na tristeza de coração, que só consome as forças. Pois, seu sofrimento será inútil ao morto e prejudicará sua saúde e sua própria vida. Diante do colapso hospitalar e funerário provocados pela pandemia do Covid-19, que obrigado certas cidades brasileira a sepultamentos em valas comuns, estas recomendações de respeito, de velório e de luto pelo falecido ficam bastante comprometidos. Concluindo Pois é, estamos dentro de uma das maiores pandemias da história da humanidade. Talvez não a maior em número de mortes confirmadas até agora, mas pela sua abrangência planetária e pela rapidez de sua contaminação e circulação do vírus. Estamos literalmente diante da morte, que se ainda não nos atingiu pessoalmente ao algum familiar nosso, entra todos os dias em nossas casas pelos meios de comunicação. Ninguém pode ficar inerte a tal acontecimento. Muitos estão preocupados em descobrir as origens do Covid19, outros arriscam suas próprias vidas para ajudar a salvar a vida de outras pessoas, outros estão pesquisando para encontrar remédio para tratar os doentes e também a vacina para prevenir futuras contaminações. Sem esquecer, é claro, dos cuidados pessoais que cada um deve ter para o seu próprio bem e dos que vivem ao seu redor. Voltando ao nosso texto que reafirmar quero neste momento dramático em que estamos metidos, as recomendações do nosso texto de estudo são muito bem-vindas, senão vejamos: ter uma vida regrada com autocontrole e boa disciplina; ter alimentação saudável e buscar os remédios na natureza; ter fé em Deus e respeitar suas Leis; se for preciso recorrer aos médicos e as ciências para enfrentar a pandemia, fazê-lo com o devido responsabilidade. E, no caso de morte, muito respeito pelo falecido, dando-lhe enterro decente e fazendo luto conforme o costume. Agudo, RS, 04 de maio de 2020. Frei João Osmar D’Ávila - CEBI/RS Uma tentativa de estudo sobre Eclesiástico 37,27-38,24 Motivação: Nós, da Coordenação do CEBI/RS nos desafiamos a escrever pequenos textos de reflexão bíblica para serem oferecidos às nossas Escolas Bíblicas e Grupos de Base nestes tempos de reclusão e isolamento provocados pela pandemia do Covid-19, que nos força a viver em quarentena. Escolhi, então, o presente texto do livro do Eclesiástico, que já foi usado pela Campanha da Fraternidade de 2012 “Fraternidade e Saúde Pública”, cujo Texto Base e outros subsídios recomendo para estes tempos de pandemia. Segue abaixo as minhas anotações. Aguardo os comentários, as críticas e as sugestões de vocês. Boa reflexão. 1- O Livro Alguns dados sobre o livro do Eclesiástico (ou Sirácida): Trata-se de uma verdadeira coletânea de ensinamentos e de releitura de textos já conhecidos no mundo judaico daquele tempo, elaborada por Eleazar de Jerusalém, em hebraico no segundo século antes de Cristo. A obra foi traduzida para a língua grega, latina e siríaca. A versão que temos em nossas bíblias vem de uma tradução para o grego elaborada pelo neto do autor, Jesus Ben Sirá, no ano 132 AC. Este tradutor escreve um prólogo ao livro onde explica o seu trabalho e as dificuldades da tradução da obra de seu avô. O autor exalta a Sabedoria, que para ele é seguir a Lei de Deus revelada a Moisés, conforme se encontra na Torá. O livro trata de temas variados relativos à vida e à morte, bem com usa uma teologia bastante ligada aos sacerdotes do Templo de Jerusalém, com características da “Teologia da Retribuição”. O Título do livro, Eclesiástico, foi dado pelo seu uso oficial pelos sacerdotes e mais tarde pela “Eclesia”. Já o título em algumas bíblias é Sirácida por causa da assinatura do autor em 51,30 do livro. A obra não possui uma estrutura literária predominante. Trata-se de uma miscelânea de ditos proverbiais e sapienciais, sentenças, hinos e orações. O Eclesiástico possui um prólogo, 51 capítulos, sendo cap. 51 um acréscimo posterior, verdadeiro apêndice. 2- O Texto 37,27-38,24 -Tirado da Nova Bíblia Pastoral da Editora Paulus. (Vocês poderão ler diretamente da bíblia de cada um). Cap. 37 27 - Filho, prove a si mesmo durante vida. Veja o que é prejudicial, e evite-o, 28 – Nem tudo convém a todos, nem todos se agradam de tudo. 29 – Não seja insaciável de prazeres, nem se lance sobre os pratos de comida. 30 – Porque o excesso de comida provoca doenças, e a gula é acompanhada de cólicas. 31 - Muitos morreram por causa de sua gula, mas quem sabe se controlar vive muito tempo. Cap. 38 1 - Honre os médicos por seus serviços, pois também o médico foi criado pelo Senhor. 2 – Do altíssimo vem a cura, e o médico receberá do rei o pagamento. 3 – A ciência do médico o faz levantar a cabeça, e por isso será admirado pelos grandes. 4 – Foi da terra que o Senhor criou os remédios e o homem de bom senso não o despreza. 5 – Não foi por um pedaço de madeira que as águas foram adoçadas e assim manifestaram seu poder? 6 – Ele deu aos seres humanos a ciência, para que pudessem glorifica-lo por causa das maravilhas dele. 7 – Com ela a dor é curada e eliminada, e o farmacêutico prepara as fórmulas. 8 – Assim as obras de Deus não têm fim, e dele vem o bem-estar para toda a terra. 9 – Filho, se você ficar doente, não seja descuidado. Suplique ao Senhor, e ele o curará. 10 – Evite as faltas, lave as mãos e purifique o coração de todo o pecado. 11 - Ofereça incenso e um memorial de flor de farinha, e faça uma oferta de óleo, conforme suas possibilidades. 12 – E dê lugar para o médico, pois também ele o Senhor o criou. Não o afaste porque você precisa dele. 13 – Há momentos em que a cura está nas mãos dele. 14 – Os médicos também suplicam ao Senhor, afim de que lhes conceda o dom de aliviar e curar, garantindo a continuidade da vida. 15 – Quem peca contra o seu Criador caia nas mãos de um médico. 16 - Filho, derrame lágrimas pelo morto, e entoe lamentações como alguém que sofre profundamente. Depois, enterre o cadáver segundo o costume e não se descuide do túmulo dele. 17 - Chore amargamente, faça a lamentação, e observe o luto proporcional à dignidade do morto, de um ou dois dias, para evitar os comentários; e depois console-se de sua tristeza. 18 – Porque da tristeza vem a morte, e a tristeza do coração consome as forças. 19- Também na desgraça a tristeza permanece, e a vida do pobre é triste ao coração. 20 – Não entregue seu coração à tristeza, mas afasta-a pensando no fim que você terá. 21 - Não se esqueça: da morte não há retorno. Você não será útil ao morto e acabará se prejudicando. 22 – Lembre-se: ”meu destino será também o seu. Eu ontem, e você hoje”. 23 – Quando o morto repousar, deixe de recordar-se dele. Console-se com a partida do espírito dele. 3- Nos aproximando do texto Ao nos aproximar deste texto é importante ter em conta que se trata de uma obra de alguns séculos AC e que já era uma releitura de escritos anteriores. Conforme já indicamos, com forte influência da Teologia da Retribuição, dentro de uma visão de mundo teocêntrica. Deus é o centro gerador de tudo e dele depende a vida e/ou a morte das suas criaturas. Dentro dessa visão, as doenças são frutos do pecado e a cura vem pelo arrependimento e pela conversão à Lei de Moisés. Não são estas a visão e a compreensão de Jesus de Nazaré que está relatada nos Evangelhos. Portanto, saibamos “tirar os noves fora”! Podemos subdividir o nosso texto em quatro partes que se relacionam e dialogam entre si, sendo o versículo 38,8 o centro do texto, vejamos: 3.1- Cuidado da vida 37,27-31 (textos semelhantes do mesmo livro: 6,2-4; 18,30-32 e 31,19-22) Nestes versículos o Autor destaca a importância da disciplina e do autocontrole para se ter saúde e vida longa. Esta mesma temática já tinha sido abordada por ele nos textos anteriores no mesmo livro conforme indiquei no subtítulo. São orientações práticas relativas à vida diária, mas com destaque para a alimentação e os bons costumes. 3.2- Os remédios e os médicos 38,1-7 Se alguém ficar doente vá buscar os remédios na própria natureza, pois “Da terra que o Senhor criou os remédios, e as pessoas sábias não os desprezam”. Caso seja necessário recorrer aos médicos e aos farmacêuticos, não têm problemas em relação à fé, pois, foi Deus quem deu a ciência a ambos, e com ela podem aliviar a dor e curar as pessoas. Vejam quanta sabedoria nestas recomendações, que continuam muito válidas ainda hoje. Cultivar a terra e guardá-la com todo o cuidado, buscando na natureza os alimentos saudáveis e, se for necessário, os remédios. 3.3- Tese central 38,8 -“Assim as obras de Deus não têm fim, e dele vem o bem-estar para toda a terra”. A expressão “bem-estar” é a tradução da palavra grega eirênê, que também pode ser traduzida por “saúde”, “paz de Deus”, “salvação”. Sabemos que a palavra paz = shâlôm significa bem-estar pleno com saúde, alegria... estar de bem consigo mesmo, com todas as outras criaturas e com o seu Criador. Portanto, estamos diante da tese central do autor em relação à vida dos seres humanos neste mundo. Aqui vale lembrar o Evangelho segundo João 10,10 onde Jesus afirma que “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância”. 3.4- A doença e a saúde são de origem divina 38,9-15 Como para o Autor, a doença é de origem divina, isto é, castigo por algum pecado cometido, a cura também o é. “Suplique ao Senhor e ele o curará”. Mas é importante notar que já naquele tempo se sabia que não basta ficar orando e pedindo a cura a Deus. É preciso fazer alguma coisa. Agir: “Filho não seja descuidado... evite as faltas, lave as mãos e purifique o coração de todo o pecado”. Portanto, é necessário ter disciplina, cuidado consigo mesmo, usar os remédios que a natureza oferece, recorrer aos médicos a à ciência se for preciso, dentro daquela compreensão de que tanto um como a outra são criaturas de Deus. Vejam que dicas importantes e atuais nestes tempos de pandemia: respeitar as orientações de isolamento, lavar as mãos e não desprezar as recomendações das ciências. 3.5- Em caso de morte, muito respeito pelo falecido 38,16-23 Para o Autor do livro do Eclesiástico a morte faz parte da vida, pois no mesmo discurso em que ele trata do cuidado com a vida, do modo de como recuperar a saúde em caso de doença, acrescenta recomendações de como proceder em caso de morte. É preciso ter muito respeito pelo morto, chorar e lamentar sua partida, lhe dar enterro decente e não descuidar de seu túmulo. Fazer luto conforme o costume e não cair na tristeza de coração, que só consome as forças. Pois, seu sofrimento será inútil ao morto e prejudicará sua saúde e sua própria vida. Diante do colapso hospitalar e funerário provocados pela pandemia do Covid-19, que obrigado certas cidades brasileira a sepultamentos em valas comuns, estas recomendações de respeito, de velório e de luto pelo falecido ficam bastante comprometidos. Concluindo Pois é, estamos dentro de uma das maiores pandemias da história da humanidade. Talvez não a maior em número de mortes confirmadas até agora, mas pela sua abrangência planetária e pela rapidez de sua contaminação e circulação do vírus. Estamos literalmente diante da morte, que se ainda não nos atingiu pessoalmente ao algum familiar nosso, entra todos os dias em nossas casas pelos meios de comunicação. Ninguém pode ficar inerte a tal acontecimento. Muitos estão preocupados em descobrir as origens do Covid19, outros arriscam suas próprias vidas para ajudar a salvar a vida de outras pessoas, outros estão pesquisando para encontrar remédio para tratar os doentes e também a vacina para prevenir futuras contaminações. Sem esquecer, é claro, dos cuidados pessoais que cada um deve ter para o seu próprio bem e dos que vivem ao seu redor. Voltando ao nosso texto que reafirmar quero neste momento dramático em que estamos metidos, as recomendações do nosso texto de estudo são muito bem-vindas, senão vejamos: ter uma vida regrada com autocontrole e boa disciplina; ter alimentação saudável e buscar os remédios na natureza; ter fé em Deus e respeitar suas Leis; se for preciso recorrer aos médicos e as ciências para enfrentar a pandemia, fazê-lo com o devido responsabilidade. E, no caso de morte, muito respeito pelo falecido, dando-lhe enterro decente e fazendo luto conforme o costume. Agudo, RS, 04 de maio de 2020. Frei João Osmar D’Ávila - CEBI/RS Uma tentativa de estudo sobre Eclesiástico 37,27-38,24 Motivação: Nós, da Coordenação do CEBI/RS nos desafiamos a escrever pequenos textos de reflexão bíblica para serem oferecidos às nossas Escolas Bíblicas e Grupos de Base nestes tempos de reclusão e isolamento provocados pela pandemia do Covid-19, que nos força a viver em quarentena. Escolhi, então, o presente texto do livro do Eclesiástico, que já foi usado pela Campanha da Fraternidade de 2012 “Fraternidade e Saúde Pública”, cujo Texto Base e outros subsídios recomendo para estes tempos de pandemia. Segue abaixo as minhas anotações. Aguardo os comentários, as críticas e as sugestões de vocês. Boa reflexão. 1- O Livro Alguns dados sobre o livro do Eclesiástico (ou Sirácida): Trata-se de uma verdadeira coletânea de ensinamentos e de releitura de textos já conhecidos no mundo judaico daquele tempo, elaborada por Eleazar de Jerusalém, em hebraico no segundo século antes de Cristo. A obra foi traduzida para a língua grega, latina e siríaca. A versão que temos em nossas bíblias vem de uma tradução para o grego elaborada pelo neto do autor, Jesus Ben Sirá, no ano 132 AC. Este tradutor escreve um prólogo ao livro onde explica o seu trabalho e as dificuldades da tradução da obra de seu avô. O autor exalta a Sabedoria, que para ele é seguir a Lei de Deus revelada a Moisés, conforme se encontra na Torá. O livro trata de temas variados relativos à vida e à morte, bem com usa uma teologia bastante ligada aos sacerdotes do Templo de Jerusalém, com características da “Teologia da Retribuição”. O Título do livro, Eclesiástico, foi dado pelo seu uso oficial pelos sacerdotes e mais tarde pela “Eclesia”. Já o título em algumas bíblias é Sirácida por causa da assinatura do autor em 51,30 do livro. A obra não possui uma estrutura literária predominante. Trata-se de uma miscelânea de ditos proverbiais e sapienciais, sentenças, hinos e orações. O Eclesiástico possui um prólogo, 51 capítulos, sendo cap. 51 um acréscimo posterior, verdadeiro apêndice. 2- O Texto 37,27-38,24 -Tirado da Nova Bíblia Pastoral da Editora Paulus. (Vocês poderão ler diretamente da bíblia de cada um). Cap. 37 27 - Filho, prove a si mesmo durante vida. Veja o que é prejudicial, e evite-o, 28 – Nem tudo convém a todos, nem todos se agradam de tudo. 29 – Não seja insaciável de prazeres, nem se lance sobre os pratos de comida. 30 – Porque o excesso de comida provoca doenças, e a gula é acompanhada de cólicas. 31 - Muitos morreram por causa de sua gula, mas quem sabe se controlar vive muito tempo. Cap. 38 1 - Honre os médicos por seus serviços, pois também o médico foi criado pelo Senhor. 2 – Do altíssimo vem a cura, e o médico receberá do rei o pagamento. 3 – A ciência do médico o faz levantar a cabeça, e por isso será admirado pelos grandes. 4 – Foi da terra que o Senhor criou os remédios e o homem de bom senso não o despreza. 5 – Não foi por um pedaço de madeira que as águas foram adoçadas e assim manifestaram seu poder? 6 – Ele deu aos seres humanos a ciência, para que pudessem glorifica-lo por causa das maravilhas dele. 7 – Com ela a dor é curada e eliminada, e o farmacêutico prepara as fórmulas. 8 – Assim as obras de Deus não têm fim, e dele vem o bem-estar para toda a terra. 9 – Filho, se você ficar doente, não seja descuidado. Suplique ao Senhor, e ele o curará. 10 – Evite as faltas, lave as mãos e purifique o coração de todo o pecado. 11 - Ofereça incenso e um memorial de flor de farinha, e faça uma oferta de óleo, conforme suas possibilidades. 12 – E dê lugar para o médico, pois também ele o Senhor o criou. Não o afaste porque você precisa dele. 13 – Há momentos em que a cura está nas mãos dele. 14 – Os médicos também suplicam ao Senhor, afim de que lhes conceda o dom de aliviar e curar, garantindo a continuidade da vida. 15 – Quem peca contra o seu Criador caia nas mãos de um médico. 16 - Filho, derrame lágrimas pelo morto, e entoe lamentações como alguém que sofre profundamente. Depois, enterre o cadáver segundo o costume e não se descuide do túmulo dele. 17 - Chore amargamente, faça a lamentação, e observe o luto proporcional à dignidade do morto, de um ou dois dias, para evitar os comentários; e depois console-se de sua tristeza. 18 – Porque da tristeza vem a morte, e a tristeza do coração consome as forças. 19- Também na desgraça a tristeza permanece, e a vida do pobre é triste ao coração. 20 – Não entregue seu coração à tristeza, mas afasta-a pensando no fim que você terá. 21 - Não se esqueça: da morte não há retorno. Você não será útil ao morto e acabará se prejudicando. 22 – Lembre-se: ”meu destino será também o seu. Eu ontem, e você hoje”. 23 – Quando o morto repousar, deixe de recordar-se dele. Console-se com a partida do espírito dele.


3- Nos aproximando do texto

Ao nos aproximar deste texto é importante ter em conta que se trata de uma obra de alguns séculos AC e que já era uma releitura de escritos anteriores. Conforme já indicamos, com forte influência da Teologia da Retribuição, dentro de uma visão de mundo teocêntrica. Deus é o centro gerador de tudo e dele depende a vida e/ou a morte das suas criaturas. Dentro dessa visão, as doenças são frutos do pecado e a cura vem pelo arrependimento e pela conversão à Lei de Moisés. Não são estas a visão e a compreensão de Jesus de Nazaré que está relatada nos Evangelhos. Portanto, saibamos “tirar os noves fora”! Podemos subdividir o nosso texto em quatro partes que se relacionam e dialogam entre si, sendo o versículo 38,8 o centro do texto, vejamos:

3.1- Cuidado da vida 37,27-31

(textos semelhantes do mesmo livro: 6,2-4; 18,30-32 e 31,19-22)

Nestes versículos o Autor destaca a importância da disciplina e do autocontrole para se ter saúde e vida longa. Esta mesma temática já tinha sido abordada por ele nos textos anteriores no mesmo livro conforme indiquei no subtítulo. São orientações práticas relativas à vida diária, mas com destaque para a alimentação e os bons costumes.

3.2- Os remédios e os médicos

38,1-7 Se alguém ficar doente vá buscar os remédios na própria natureza, pois “Da terra que o Senhor criou os remédios, e as pessoas sábias não os desprezam”. Caso seja necessário recorrer aos médicos e aos farmacêuticos, não têm problemas em relação à fé, pois, foi Deus quem deu a ciência a ambos, e com ela podem aliviar a dor e curar as pessoas. Vejam quanta sabedoria nestas recomendações, que continuam muito válidas ainda hoje. Cultivar a terra e guardá-la com todo o cuidado, buscando na natureza os alimentos saudáveis e, se for necessário, os remédios.

3.3- Tese central 38,8

-“Assim as obras de Deus não têm fim, e dele vem o bem-estar para toda a terra”. A expressão “bem-estar” é a tradução da palavra grega eirênê, que também pode ser traduzida por “saúde”, “paz de Deus”, “salvação”. Sabemos que a palavra paz = shâlôm significa bem-estar pleno com saúde, alegria... estar de bem consigo mesmo, com todas as outras criaturas e com o seu Criador. Portanto, estamos diante da tese central do autor em relação à vida dos seres humanos neste mundo. Aqui vale lembrar o Evangelho segundo João 10,10 onde Jesus afirma que “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância”.

3.4- A doença e a saúde são de origem divina 38,9-15

Como para o Autor, a doença é de origem divina, isto é, castigo por algum pecado cometido, a cura também o é. “Suplique ao Senhor e ele o curará”. Mas é importante notar que já naquele tempo se sabia que não basta ficar orando e pedindo a cura a Deus. É preciso fazer alguma coisa. Agir: “Filho não seja descuidado... evite as faltas, lave as mãos e purifique o coração de todo o pecado”. Portanto, é necessário ter disciplina, cuidado consigo mesmo, usar os remédios que a natureza oferece, recorrer aos médicos a à ciência se for preciso, dentro daquela compreensão de que tanto um como a outra são criaturas de Deus. Vejam que dicas importantes e atuais nestes tempos de pandemia: respeitar as orientações de isolamento, lavar as mãos e não desprezar as recomendações das ciências.

3.5- Em caso de morte, muito respeito pelo falecido 38,16-23

Para o Autor do livro do Eclesiástico a morte faz parte da vida, pois no mesmo discurso em que ele trata do cuidado com a vida, do modo de como recuperar a saúde em caso de doença, acrescenta recomendações de como proceder em caso de morte. É preciso ter muito respeito pelo morto, chorar e lamentar sua partida, lhe dar enterro decente e não descuidar de seu túmulo. Fazer luto conforme o costume e não cair na tristeza de coração, que só consome as forças. Pois, seu sofrimento será inútil ao morto e prejudicará sua saúde e sua própria vida. Diante do colapso hospitalar e funerário provocados pela pandemia do Covid-19, que obrigado certas cidades brasileira a sepultamentos em valas comuns, estas recomendações de respeito, de velório e de luto pelo falecido ficam bastante comprometidos.


Concluindo

Pois é, estamos dentro de uma das maiores pandemias da história da humanidade. Talvez não a maior em número de mortes confirmadas até agora, mas pela sua abrangência planetária e pela rapidez de sua contaminação e circulação do vírus. Estamos literalmente diante da morte, que se ainda não nos atingiu pessoalmente ao algum familiar nosso, entra todos os dias em nossas casas pelos meios de comunicação. Ninguém pode ficar inerte a tal acontecimento. Muitos estão preocupados em descobrir as origens do Covid19, outros arriscam suas próprias vidas para ajudar a salvar a vida de outras pessoas, outros estão pesquisando para encontrar remédio para tratar os doentes e também a vacina para prevenir futuras contaminações. Sem esquecer, é claro, dos cuidados pessoais que cada um deve ter para o seu próprio bem e dos que vivem ao seu redor. Voltando ao nosso texto que reafirmar quero neste momento dramático em que estamos metidos, as recomendações do nosso texto de estudo são muito bem-vindas, senão vejamos: ter uma vida regrada com autocontrole e boa disciplina; ter alimentação saudável e buscar os remédios na natureza; ter fé em Deus e respeitar suas Leis; se for preciso recorrer aos médicos e as ciências para enfrentar a pandemia, fazê-lo com o devido responsabilidade. E, no caso de morte, muito respeito pelo falecido, dando-lhe enterro decente e fazendo luto conforme o costume.


Agudo, RS, 04 de maio de 2020.

Frei João Osmar D’Ávila, ofm.

Membro do CEBI/RS

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